Muitos produtores de peixes e profissionais da área de pescados já ouviram falar de uma síndrome ainda rara, mas que já tem casos registrados no Brasil: a doença de Haff. Ela é provocada pelo consumo de peixe contaminado, com os sintomas aparecendo em poucas horas.
Ela é transmitida por peixes carnívoros, o que exige um cuidado ainda maior por parte dos profissionais do ramo, principalmente em relação à procedência do pescado e à criação dos peixes.
Neste post, explicamos detalhadamente o que é a doença de Haff, os sintomas e falaremos dos principais peixes que a causam. Boa leitura!
O que é a doença de Haff?
A síndrome de Haff, também conhecida popularmente como “doença da urina preta” (por conta de um dos sintomas, que causa uma coloração escura), é causada pelo consumo de pescado contaminado.
Essa síndrome consiste em uma rabdomiólise, uma situação em que há a destruição das fibras musculares. A doença de Haff é uma condição clínica rara. Após comer o pescado contaminado, ela pode levar o indivíduo à morte, uma vez que não há um tratamento rápido.
Como há muita desinformação e fake news sobre a doença na internet, é importante notar que as pessoas devem buscar um médico quando notarem a coloração escura na urina e uma rigidez muscular após o consumo de pescado — principalmente peixes carnívoros, como o badejo.
A síndrome de Haff não é exclusiva do Brasil, uma vez que casos similares já foram constatados em outros lugares do planeta. Ela virou notícia em nosso país após a morte de uma veterinária de 31 anos, em Recife, em 2021. No ano seguinte, novas vítimas foram registradas no Pará.
A vítima de Recife relatou dores e rigidez muscular após ingerir um peixe, em um almoço de família. Ela foi internada, mas não resistiu aos sintomas e morreu alguns dias depois.
Contudo, o caso revela algo interessante: o almoço foi em família, mas apenas a veterinária Pryscila Andrade sofreu com o problema. Assim, nem todo mundo acaba sendo afetado pela doença ao consumir peixe contaminado.
Além disso, em muitos casos, a recuperação é completa. Isso mostra que é preciso pesquisar e informar-se antes de aceitar a hipótese de que a doença é fatal em todos os casos ou que o simples consumo de peixes carnívoros é o suficiente para que a vida da pessoa seja ameaçada.
O que causa a síndrome de Haff?
O que sabemos, até o momento, é que os sintomas da doença de Haff iniciam-se em menos de 24 horas após a ingestão do peixe contaminado. Contudo, apesar de essa relação estar bem estabelecida (o consumo de pescado portador da síndrome), a etiologia, a causa do problema, ainda não está bem explicada.
Os estudos atuais apontam que a síndrome envolve uma toxina termoestável, que não é destruída mesmo após a preparação do peixe. Afinal, existem relatos de ocorrência da doença mesmo depois do consumo de pescado cozido.
Embora os médicos e estudiosos conheçam as características da toxina, pouco mais se sabe além dos sintomas causados por ela, que são os seguintes:
- dor muscular difusa, que pode espalhar-se por diversas partes do corpo;
- rigidez muscular;
- falta de ar;
- dormência dos membros;
- fadiga e perda da força;
- urina escura, um dos sintomas mais conhecidos.
Em geral, pacientes com a doença de Haff não apresentam sintomas comuns de outras enfermidades, como a febre, a hepatomegalia (aumento do tamanho do fígado) ou esplenomegalia (aumento da área do baço). Inclusive, a ausência de febre é um dos indícios que apontam para uma toxina como causadora.
A síndrome de Haff causa apreensão nos consumidores de pescado, vendedores e médicos, porque ainda não conhecemos bem a toxina que causa o problema. No entanto, é importante relembrar que a maioria dos pacientes sobrevive e apresenta uma recuperação rápida.
Diagnóstico da síndrome de Haff
O diagnóstico é realizado por meio da análise de sintomas, assim como pela verificação do histórico de consumo alimentar. De qualquer modo, sintomas como a urina de coloração escura e a rigidez muscular exigem que se visite um hospital ou médico rapidamente.
Isso porque o diagnóstico tardio coloca em risco a vida do paciente. Por ser uma síndrome ainda bem rara, ela nem sempre será identificada facilmente.
No caso da veterinária Pryscila de Andrade, por exemplo, os sintomas começaram cerca de 5 horas depois do consumo, e os profissionais de saúde ainda não estavam familiarizados com o problema, o que atrasou o diagnóstico e o tratamento.
Tratamento da doença
A doença de Haff não apresenta um tratamento específico para atacar diretamente a toxina. Na verdade, os cuidados são voltados para o alívio dos sintomas e combater as complicações.
Uma das consequências mais comuns é a insuficiência renal. Por isso, é importante que os rins sejam monitorados. Muitas pacientes nem mesmo precisam de intervenções agressivas, com uma recuperação rápida do problema.
Quais peixes podem causar a doença?
No Brasil, o envenenamento é provocado pela ingestão da carne de alguns peixes carnívoros presentes em nossas águas, como o badejo e o olho-de-boi (também conhecido como arabaiana). Também pode ser causado por crustáceos que vivem em áreas de recifes coralinos.
O olho-de-boi é um peixe de águas profundas, enquanto o badejo é normalmente encontrado em áreas mais rasas. Ainda assim, eles compartilham alguns aspectos: ambos visitam recifes de corais com frequência, para se alimentar e se reproduzir, por exemplo.
Além disso, os dois são carnívoros e se alimentam de outros peixes e animais marinhos. É sempre bom lembrar que cozinhar os pescados, mesmo por longos períodos, não vai fazer o problema sumir.
Assim, a ocorrência da síndrome resiste à cocção. Como se não bastasse, o gosto é insípido, o que faz com que as pessoas que consomem os peixes contaminados nem mesmo sintam o gosto de algo diferente.
Nos casos registrados no Pará, que mencionamos, os sintomas surgiram após o consumo de pacu. Os moradores da região também foram orientados a evitar o consumo de pirapitinga e tambaqui.
Como vimos no artigo, a doença de Haff é uma realidade no Brasil e em outros países. Por isso, os produtores e trabalhadores do ramo de pescados têm que redobrar os cuidados com a procedência. A boa notícia é que a maioria dos casos não resulta em morte, além de um número ainda baixo de ocorrências no geral.
Para reforçar ainda mais o seu conhecimento sobre o tema, não deixe de conferir o nosso artigo sobre doenças na criação de peixes em tanque!