A biodiversidade e a produção de alimentos sempre estiveram interligadas. Desde os primórdios da agricultura, a diversidade de plantas tem sido fundamental para a adaptação das culturas em diversas regiões. E com as vertentes voltadas para uma melhor sustentabilidade, ela se torna uma das maiores aliadas no controle natural de pragas.
A preocupação com o meio ambiente cresceu devido a exploração excessiva dos recursos naturais. Se essa mentalidade não mudar, setores fundamentais para a vida, como a agricultura, poderão enfrentar sérias consequências no futuro.
Para nos prepararmos para esse cenário, elaboramos este artigo que detalha a importância da biodiversidade na agricultura, como funciona o controle de pragas natural e de que maneira as práticas de agroecologia podem ser vitais. Acompanhe!
Importância da biodiversidade na agricultura
A biodiversidade na agricultura garante o equilíbrio dos sistemas de produção agrícola, fornece serviços e insumos para a agricultura, criando oportunidades para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade ambiental, bem como a bioeconomia.
Só para ter uma ideia, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, o Brasil tem a maior biodiversidade do planeta, com mais de 116.000 espécies de animais e 46.000 espécies de plantas registradas.
O setor agrícola está se tornando cada vez mais consciente das questões ambientais. Esse aspecto se deve ao reconhecimento de que as práticas agrícolas intensivas convencionais são insustentáveis a longo prazo e à crescente conscientização da população sobre a importância de consumir alimentos mais saudáveis.
É importante destacar que não estamos sugerindo um retorno a métodos e técnicas rudimentares ou anteriores às revoluções agrícolas. A intenção é quebrar o paradigma de que o agronegócio e o meio ambiente são incompatíveis.
Na realidade, a agricultura moderna depende do ecossistema e deve ser conduzida de forma equilibrada. Devemos produzir alimentos que atendam à demanda atual, mas sem degradar o solo e os recursos hídricos, sem perda de biodiversidade e sem o uso excessivo de defensivos e fertilizantes para promover, enfim, um controle natural de pragas mais funcional.
Muito mais do que preservar
Quando pensamos em biodiversidade, a primeira imagem que nos vem à mente é a de uma floresta densa, repleta de uma grande variedade de animais. No entanto, podemos ir além e considerar a vasta diversidade de sequências de DNA e os benefícios que esses genes podem trazer para a humanidade.
Os genes oferecem a oportunidade de desenvolver uma ampla gama de produtos e tecnologias, que vão desde medicamentos até plantas mais produtivas e resistentes às variações climáticas. Assim, a sua conservação também oferece um enorme potencial para uso econômico.
Controle natural de pragas e doenças
A biodiversidade faz toda a diferença nesse processo, pois favorece o controle biológico por meio de predadores e parasitoides, além de promover a competição que inibe o crescimento de pragas e doenças.
Assim, contribui para a saúde das plantações, ajuda a conservar os polinizadores no campo e promove melhor resistência genética. Confira mais detalhes sobre o controle natural de pragas e doenças a seguir.
Predadores e parasitoides
Nesse aspecto, destaca-se o controle biológico como já mencionamos, um fenômeno natural que envolve a regulação das populações de plantas e animais por meio de seus inimigos naturais, que atuam como agentes de mortalidade biótica.
Dessa forma, todas as espécies de plantas e animais têm inimigos naturais que afetam diferentes estágios de seus ciclos de vida. Em outras palavras, trata-se de um organismo que exerce controle sobre outro organismo.
No setor agrícola, o controle biológico é utilizado para gerenciar pragas por meio de seus inimigos naturais, como parasitoides, predadores e microrganismos. Os principais agentes já aplicados para o controle de pragas naturais são:
- parasitoides — as vespas do gênero Trichogramma são as que mais se destacam no controle natural de pragas;
- predadores — podemos destacar os ácaros predadores e insetos, como joaninhas (Coccinellidae) e crisopídeos;
- patógenos — esse grupo envolve diversas espécies de fungos, bactérias, vírus e nematoides, como bactéria Bacillus thurigiensis, o fungo Beauveria bassiana e nematoides que atacam insetos no solo.
Competição
Quando diferentes espécies de plantas são cultivadas em conjunto, por exemplo, a competição por recursos, como luz, água e nutrientes, pode limitar o crescimento de pragas e doenças, pois elas se especializam em uma única planta hospedeira.
Dessa maneira, ajuda a equilibrar as populações, o que as torna menos propensas a causar danos significativos às colheitas e favorece um controle natural de pragas eficiente.
Polinizadores e saúde das plantas
A presença de diversas plantas atrai polinizadores que, por facilitarem a polinização, aumentam a produção de frutos e sementes.
Para exemplificar, mais de 60% das plantas cultivadas no Brasil — incluindo aquelas destinadas à alimentação humana, produção animal, cultivo de biodiesel e obtenção de fibras — dependem, em grande medida, da polinização realizada por esses insetos. Por isso, é imprescindível estar atento às medidas de preservação.
Resistência genética
A diversidade genética dentro das culturas cultivadas também é o diferencial para promover a resistência a pragas e doenças. Inclusive, na variabilidade genética, pode-se identificar características que possam aprimorar os cultivos e auxiliar na resistência às adversidades das lavouras, que incluem tanto fatores abióticos, como a seca, quanto bióticos, como aqueles provocados por pragas e doenças.
À medida que novas características são descobertas na biodiversidade, torna-se possível desenvolver novas cultivares, seja por meio do melhoramento clássico, seja utilizando técnicas mais avançadas de biotecnologia.
Impactos dos defensivos na biodiversidade
O uso indevido de defensivos agrícolas pode levar à contaminação de água e solo, como já se sabe, mas também pode causar impactos significativos em espécies que não são o alvo, prejudicando a biodiversidade, as redes alimentares e os ecossistemas, tanto aquáticos quanto terrestres.
Veja nos próximos tópicos com mais detalhes.
Perda de espécies
Diversos organismos podem ser impactados pelos defensivos, incluindo insetos benéficos ao solo e à polinização, peixes, outros seres aquáticos, aves e espécies selvagens. A água contaminada também pode afetar plantas aquáticas, reduzir a quantidade de oxigênio dissolvido e causar danos fisiológicos aos animais.
Defensivos com base de glifosato, por exemplo, podem ser tóxicos para peixes, provocar deformidades vertebrais e gerar efeitos subletais, como natação irregular e dificuldade respiratória, o que diminui as chances de sobrevivência.
Desequilíbrio Ecológico
A aplicação de defensivos pode causar um desequilíbrio ecológico, eliminando organismos que ajudam a controlar pragas naturalmente.
Com a morte de predadores e parasitas naturais, as populações de pragas podem se multiplicar rapidamente, levando a um ciclo de dependência de defensivos químicos. Esse efeito pode resultar em um aumento do uso de pesticidas, agravando a situação.
Resistência
A aplicação inadequada de produtos fitossanitários para o controle de pragas tem gerado discussões nos últimos anos, e esse aspecto tem afetado diretamente a rentabilidade dos agricultores.
Isso acontece porque muitos produtores adquirem esses defensivos de forma independente e os aplicam em suas propriedades sem as devidas precauções. Essa prática tem levado ao surgimento de populações resistentes a diversos compostos químicos, representando um desafio considerável para a produção agrícola.
Promoção da agroecologia para aumentar a biodiversidade
Muitos agricultores estão incorporando práticas agrícolas mais sustentáveis, como a agroecologia. Essa abordagem incentiva a preservação da biodiversidade por meio de estratégias como policultivos, rotação de culturas, agroflorestas e manejo sustentável do solo, evitando impactos adversos na biodiversidade.
Dessa maneira, promove-se uma agricultura mais equilibrada e em harmonia com o meio ambiente, o que contribui para a conservação da biodiversidade e a sustentabilidade dos sistemas agrícolas. Entenda como essas abordagens podem ser aplicadas.
Policultivos
Como o nome sugere, a policultura é uma prática agrícola que envolve o cultivo de diversas espécies na mesma área ou campo, seja simultaneamente ou em sequência, e uma importante aliada no controle natural de pragas.
Essa prática é o oposto da monocultura, que se concentra em uma única cultura em grande escala. A policultura é frequentemente utilizada em sistemas agroflorestais e em locais que aplicam técnicas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), em que as culturas são cultivadas em conjunto com árvores ou arbustos.
Esse sistema pode ser extremamente benéfico em áreas com solos degradados ou com baixa disponibilidade de água, pois as árvores e arbustos ajudam a estabilizar o solo e oferecem sombra e proteção contra o vento.
Rotação de culturas
A rotação de culturas é uma prática de manejo agrícola que envolve a alternância sistemática e planejada das espécies cultivadas ao longo do tempo.
O objetivo dessa técnica é promover a diversidade de espécies vegetais na lavoura, proporcionando uma série de benefícios ao solo, tanto em aspectos físicos quanto químicos e biológicos. Além disso, a rotação de culturas ajuda a diminuir a pressão de pragas e doenças, e pode também reduzir a ocorrência e a intensidade de plantas daninhas.
Agroflorestas
Os sistemas agroflorestais (SAFs) são uma abordagem que envolve o cultivo consorciado de árvores nativas, frutíferas ou madeireiras com culturas agrícolas anuais, bienais ou perenes.
Com essa estratégia, os produtores rurais podem conduzir suas atividades de maneira ambientalmente responsável, ao mesmo tempo em que diversificam suas fontes de renda. Há também uma melhor integração, desde o uso de maquinários até outras tecnologias, para uma agricultura de precisão eficiente.
Manejo sustentável do solo
Nesse momento em que produtores, empresas e instituições em todo o mundo debatem estratégias e metas para técnicas de agricultura regenerativa, visando tornar a agropecuária mais responsável, produtiva e lucrativa, é fundamental discutir maneiras de promover um manejo mais sustentável do solo. As principais incluem:
- plantio direto — a adoção do plantio direto promove o equilíbrio do agroecossistema, o que contribui para a redução da erosão do solo, a preservação de nutrientes e a diminuição do consumo de combustíveis fósseis relacionados ao preparo;
- monitoramento e análise de solo — esses procedimentos possibilitam ajustar as práticas agrícolas conforme necessário e otimizar tanto a produtividade quanto a sustentabilidade;
- irrigação inteligente — é uma técnica que visa fornecer água e nutrientes de maneira controlada diretamente nas plantações, além de otimizar o uso de energia. Seu principal objetivo é realizar uma irrigação localizada, garantindo maior aproveitamento e diminuição de erosão.
Esses são os principais aspectos que devem ser considerados para a promoção da harmonia da biodiversidade e controle natural de pragas. E a agricultura pode ser uma importante parceira na preservação do meio ambiente, desde que sejam adotadas e priorizadas práticas sustentáveis no setor agropecuário.
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