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Aquicultura integrada e multitrófica: o que saber sobre esse sistema

Modificado em: outubro 1, 2024

Um modelo de aquicultura integrada e multitrófica é baseado na convivência entre espécies que apresentam diferentes comportamentos de alimentação em um mesmo ambiente. Assim, nutrientes são aproveitados pelos diferentes organismos e os recursos naturais são potencializados, como a própria água.

Com isso, há um ganho em sustentabilidade e até mesmo em produtividade, assim como na promoção da biodiversidade aquática. Neste conteúdo, contamos com a participação de Marcelo Carrão Castagnolli, mestre em aquicultura pela UNESP e gestor comercial de aquanegócios da Sansuy, para explorar o conceito de aquicultura integrada e multitrófica, os benefícios, os desafios e alguns exemplos. Boa leitura!

O conceito de aquicultura integrada e multitrófica

Marcelo Carrão Castagnolli explica que a produção de organismos aquáticos baseada nos conceitos da aquicultura multitrófica integrada (IMTA) consiste na integração de diversas espécies em um mesmo sistema produtivo. Desse modo, há uma troca de nutrientes entre elas por meio da água.

Os resíduos alimentares que não servirem para uma determinada espécie, por exemplo, servem de alimento para outra espécie que esteja integrada a esse cultivo — o que ajuda muito a reduzir os impactos ambientais. Com essa troca de nutrientes, cada aquicultor conseguirá acelerar a produção e obter mais lucros em suas vendas.

Vale a pena destrinchar o que significa o termo “multitrófico”: ele se relaciona à incorporação de diferentes níveis tróficos, isto é, a posição de cada espécie na hierarquia alimentar. Nesse sentido, esse modelo de aquicultura se diferencia do policultivo, que é simplesmente a presença de diferentes espécies de peixes de um mesmo nível trófico, no mesmo ambiente.

O conceito do IMTA é flexível, e muitas vezes confundido e utilizado como sinônimo do policultivo. Por isso, não é suficiente simplesmente considerar várias espécies: no modelo de aquicultura integrada multitrófica, os peixes e organismos precisam necessariamente estar em múltiplos níveis tróficos, baseados em funções complementares em um ecossistema.

Os benefícios da aquicultura integrada e multitrófica

“De maneira sucinta podemos assumir que esse sistema produtivo reduz a geração de resíduos e o potencial de impacto ambiental da atividade”, explica Marcelo.

A produção de organismos aquáticos de diversos níveis tróficos da teia alimentar contribui para a redução da geração de resíduos efluentes.

“Assim, nutrientes presentes na dieta ofertada para um dado organismo aquático que não forem absorvidos e transformados em músculo serão aproveitados por indivíduos de níveis tróficos inferiores”, afirma o gestor comercial de aquanegócios da Sansuy.

Nesse modelo de criação de organismos aquáticos, é possível minimizar, e até anular, o impacto ambiental decorrente do melhor aproveitamento dos nutrientes presentes na dieta (ou na ração), oferecida diariamente aos animais alojados.

Os exemplos de sistemas integrados

Marcelo oferece alguns exemplos efetivos que provam que a aquicultura integrada multitrófica produz bons resultados:

  • suíno-piscicultura: criação de suínos e criação de peixes;
  • marreco-de-pequim e piscicultura: criação de marreco-de-pequim e criação de peixes;
  • rizipiscicultura: criação de peixes e cultivo de arroz inundado;
  • rizi-suíno-piscicultura: criação de suínos, criação de peixes e cultivo de arroz inundado;
  • rizipiscicultura e marreco-de-pequim: criação de peixes e marrecos de pequim e cultivo de arroz inundado;
  • rizi-suíno-piscicultura e marreco-de-pequim: criação de suínos, criação de peixes, criação de marreco-de-pequim e cultivo de arroz inundado;
  • criação de peixes em tanques-rede e produção de ostras, mexilhões e macroalgas em ambiente marinho;
  • criação de peixes e crustáceos: criação de peixes e camarões;
  • bubalino-piscicultura: criação de peixes e criação de búfalos;
  • aquaponia: criação de peixes e produção de vegetais em hidroponia, com raízes nuas;
  • carcinicultura-tilapicultura: criação de camarões e criação de peixes;
  • carcinicultura-ostreicultura: criação de camarões e ostras;
  • carcinicultura-mitilicultura: criação de camarões e mexilhões;
  • criação de pirarucu e criação de tilápias.

Um detalhe interessante: na rizipiscicultura, a criação de peixes gera resíduos que fertilizam o solo e eles se alimentam de larvas de insetos, reduzindo a presença de pragas.

As diferenças entre aquicultura integrada x aquicultura tradicional

Como vimos até aqui, a aquicultura integrada descreve a junção de diferentes espécies tróficas, de modo a distribuir água e repartir recursos entre os organismos presentes no ambiente.

O objetivo é utilizar os recursos naturais e aproveitar todo o seu potencial, além dos resíduos gerados. Nesse sentido, a aquicultura é uma alternativa sustentável à pesca e à aquicultura tradicionais — que não tem um foco tão grande na sustentabilidade e na repartição de insumos entre as espécies.

Contudo, a aquicultura integrada moderna está longe de ter apenas a preservação ambiental como norte: o aumento da produtividade e o desenvolvimento econômico também fazem parte dos benefícios.

A ideia básica dos sistemas de agricultura integrada é que, por meio de duas ou mais espécies, preferencialmente aquelas que tenham hábitos alimentares complementares, haja um melhor aproveitamento de nutrientes (como fósforo, nitrogênio e ração) e da água na qual esses organismos são desenvolvidos. Com isso, a modalidade multitrófica se prova mais sustentável em relação ao monocultivo tradicional.

Os desafios da aquicultura integrada

O maior desafio, no Brasil, é a implementação gradual de processos ligados à aquicultura sustentável, como é o caso da modalidade integrada. Ela é fundamental para combater a eutrofização, por exemplo.

A eutrofização é, basicamente, a infusão de partículas orgânicas que reduzem a quantidade de oxigênio presente na água. Assim, a vida das espécies no ambiente aquático se torna insustentável.

Outro desafio é o manejo adequado da água — afinal, um dos principais objetivos da aquicultura integrada é a preservação e uso consciente dos recursos naturais. A aquicultura propõe o desenvolvimento de tecnologias e práticas modernas que evitem isso. Um exemplo é a recirculação e a coleta da chuva em reservatórios, o que reduz o impacto ligado à obtenção do insumo e à gestão de efluentes residuais.

Um terceiro desafio é a busca pela utilização de sistemas que apresentem baixo impacto ambiental. Isso envolve questões como as características da propriedade em que a atividade tomará parte, as espécies escolhidas, o modelo de alimentação, entre outras.

As regulamentações e normas

As alterações na legislação da aquicultura como um todo têm ocorrido frequentemente nos últimos anos. O objetivo é que os produtores atendam às necessidades geradas pela aceleração do setor e a redução dos danos ambientais.

Nesse sentido, há alterações constantes nas regulamentações e das normas, além do surgimento de outras. Alguns dos órgãos responsáveis por essas modificações são o IBAMA, a Anvisa, o Ministério da Agricultura e Inmetro, por exemplo.

Também surgiram algumas modificações em legislações estaduais, principalmente naquelas regiões em que a aquicultura é mais presente. Um exemplo é o Mato Grosso e a sua lei 10.669, de fevereiro de 2018, que promove a produção de peixes exóticos em sistemas que utilizam os tanques-rede.

Um detalhe interessante é que esse tipo de produção só podia ser feito nos chamados viveiros escavados. A mudança na legislação acelera a produtividade e torna o Mato Grosso um dos protagonistas de diversos ramos da aquicultura, como a piscicultura.

Ainda que esse exemplo se restrinja a apenas um estado, é importante ressaltá-lo porque mostra que a legislação deve servir para acelerar a produtividade — e não somente para promover regras.

Podemos citar outras leis e regulamentações aplicáveis à aquicultura:

  • lei nº 11.959/2009, que estabelece a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca, regula as atividades pesqueiras. Essa legislação revoga a Lei nº 7.679/1988;
  • lei nº 14.181/2002, de Minas Gerais, que determina a política de proteção à fauna e à flora aquáticas e de desenvolvimento da pesca e da aquicultura;
  • resolução do Conama 357/2005, que enquadra as águas destinadas à aquicultura e à pesca como classe 2, que devem apresentar um nível de turbidez de até 100 UNT.

Diante dos exemplos positivos no Mato Grosso e de Minas Gerais, é possível supor que outros estados também tendem a criar legislações que promovam o crescimento das diferentes modalidades de aquicultura — tanto ao nível econômico como em termos de sustentabilidade.

O Brasil já se destaca em diversas áreas da aquicultura, mas há potencial para uma expansão significativa. Em 2023, por exemplo, o país produziu mais de 887 mil toneladas de peixes de cultivo, o que representa um crescimento de 3,1% em relação ao ano de 2022. A legislação precisa fomentar e regulamentar esse crescimento.

Os estudos de caso

Além dos exemplos específicos citados por Marcelo, como a suíno-piscicultura e a criação conjunta de peixes e crustáceos, também há pesquisas acadêmicas que promovem esse conhecimento.

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de New Hampshire (UNH), nos Estados Unidos, mostrou que a integração de uma aquicultura de camarão com a criação de ostras e algas marinhas pode reduzir as emissões de nitrogênio produzidas durante o convívio dessas espécies em um mesmo ambiente.

Nesse caso, as ostras e algas marinhas absorvem o excesso de nitrogênio que é liberado durante a criação de camarões. Trata-se de um exemplo perfeito da implementação de aquicultura integrada para reaproveitar recursos naturais.

Além disso, a aquicultura integrada já é tema de palestras promovidas pela Embrapa, com a visita de pesquisadores do exterior. Para quem quer se aprofundar no tema, Marcelo indica alguns estudos acadêmicos:

As perspectivas e tendências futuras

Para promover a mitigação de impactos ambientais negativos causados pelo monocultivo tradicional, alguns países ocidentais já têm utilizado a abordagem multitrófica, que tem uma rica história em países como Índia, China e Vietnã.

Em um país diverso como o Brasil, com muitos produtores e profissionais ligados à aquicultura, as possibilidades de integração entre diferentes espécies aquáticas disponíveis em ecossistemas distintos são imensas — e ainda pouco exploradas.

Como vimos neste post, a aquicultura integrada e multitrófica é uma abordagem sustentável que tem ganhado espaço em todo o mundo. Também conhecida pela sua sigla em inglês, IMTA, ela combina a perspectiva de alta produtividade com a preservação ambiental, ao pregar a repartição e reaproveitamento de recursos.

Aproveite a visita ao blog para conhecer um conceito mais amplo, do qual a modalidade integrada e multitrófica faz parte: saiba mais sobre a aquicultura sustentável!

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