Quando lançados sem tratamento em ambientes aquáticos, os efluentes podem trazer diversos prejuízos às comunidades aquáticas. É o caso do acúmulo de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, o que provoca mudanças nas condições físicas e químicas. O principal caminho para evitar esses impactos é o tratamento de efluentes.
No contexto da piscicultura, esses efluentes, também chamados de água residual, são qualquer tipo de água gerado a partir da renovação e do dreno de viveiros, como em tanques de criação de peixes. Eles são ricos em diversas substâncias químicas, como fósforo, nitrogênio, matéria orgânica, entre outros.
Ao longo deste artigo, traremos as principais informações sobre o tratamento de efluentes, desde o que é esse processo e como ele funciona, até os principais tipos de tratamento de efluentes. Continue a leitura para conferir!
O que é o tratamento de efluentes e qual a sua importância?
Esse processo consiste na execução de uma série de procedimentos cujo objetivo é eliminar contaminantes presentes em líquidos residuais. Os contaminantes consistem tanto em sólidos quanto em matéria orgânica e nutrientes. O tratamento de efluentes é exigido por lei e deve ser feito antes que a água seja devolvida à natureza ou reutilizada para outros fins não potáveis.
Além dos efluentes provenientes da piscicultura, há diversos outros tipos que precisam ser tratados. Entre eles estão os efluentes domésticos, aqueles gerados em residências ou edificações que tenham banheiros ou cozinhas, consistindo basicamente em necessidades fisiológicas humanas. É o caso de fezes, urina e restos de comida, por exemplo.
Há ainda os resíduos industriais, que vêm de diversas etapas do processo produtivo, como lavagem e limpeza de materiais. Independentemente do tipo de efluente, todos precisam ser tratados adequadamente.
No que diz respeito aos efluentes da piscicultura — que, como destacamos, é a água gerada a partir da renovação e dreno de viveiros —, eles também precisam ser tratados. Essa prática é essencial, pois evita danos graves ao meio ambiente e à saúde da vida aquática, além de otimizar a produção.
Como funciona esse processo?
Combinando processos químicos, físicos e biológicos, o tratamento de efluentes é dividido em quatro etapas: tratamento preliminar, primário, secundário e terciário. Saiba mais sobre como funciona esse processo a seguir.
Tratamento preliminar
Nesta primeira etapa, o objetivo é remover contaminantes sólidos e outros efluentes maiores encontrados nas águas residuais. Dois procedimentos são frequentemente combinados para auxiliar nesse processo:
- desarenação: remove tufos de areia por meio de sedimentação;
- gradeamento: utiliza grades metálicas como barreira para separar resíduos sólidos maiores.
Além de remover materiais maiores, o processo facilita a execução dos seguintes passos do tratamento e protege os equipamentos de tratamentos contra danos causados por resíduos pesados.
Tratamento primário
Após o processo preliminar, é hora de colocar em prática a etapa primária. Trata-se de um tratamento que busca remover resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos via sedimentação, como nitrogênio, fósforo e metais pesados.
Nesta fase, empregam-se processos físico-químicos para separar os sólidos em suspensão e os dejetos. Alguns dos procedimentos incluem:
- Flotação: adição de bolhas de ar ao efluente, fazendo com que as partículas em suspensão adiram a essas bolhas, formando uma espuma removida posteriormente;
- Eletrocoagulação: passagem de corrente elétrica pela água, desestabilizando a solução e coagulando contaminantes para facilitar a filtragem dos efluentes.
Tratamento secundário
Nesta etapa do tratamento, é a vez de remover resíduos orgânicos e sólidos em suspensão. Os procedimentos podem ser aeróbios (requerem oxigênio) ou anaeróbios (não necessitam de oxigênio), sendo os principais tratamentos:
- lagoas de estabilização: tratamento por métodos químicos e biológicos para facilitar a remoção da matéria orgânica;
- lagoas aeradas: o efluente passa por aeração eletromecânica, fornecendo oxigênio para os organismos decompositores da matéria orgânica;
- reatores anaeróbios: aumentam o potencial de degradação da matéria orgânica armazenada, convertendo a biomassa resultante em biogás.
Tratamento terciário
Também chamado de tratamento avançado, a última fase do processo é empregada quando há contaminantes na água residual que não puderam ser removidos durante o tratamento secundário. Entre eles, podemos destacar fósforo, nitrogênio, substâncias orgânicas refratárias, sólidos suspensos adicionais ou dissolvidos e metais pesados.
Nesta etapa, podem ser realizados os seguintes métodos:
- microfiltração: separação de partículas de sujeira usando membranas com poros;
- adsorção (carvão ativado): as sujeiras são adsorvidas na superfície do carvão ativado e transferidas;
- cloração: inserção de cloro para destruir microrganismos ou agir como oxidante, purificando a água;
- ozonização: utilização de ozônio como agente oxidante.
Quais são as exigências legais quanto ao tratamento de efluentes?
A seguir, são destacadas algumas das principais legislações vigentes relacionadas ao tratamento de efluentes.
- Código de Águas de 1934: estabelece princípios que ainda norteiam a política de gestão de águas no país, como a prioridade para o uso da água para consumo humano e animal, a necessidade de outorga para o uso de recursos hídricos e a criação de órgãos de gestão e fiscalização.
- Lei de Águas de 1997: além de criar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos com o objetivo de promover a gestão integrada e sustentável no país.
- Política Nacional de Resíduos Sólidos: determina diretrizes para a redução na geração de resíduos, incentivo à reciclagem, disposição adequada em aterros sanitários e coleta seletiva.
- Política Nacional do Meio Ambiente: estabelece diretrizes para a proteção, conservação e recuperação do meio ambiente, assegurando a qualidade de vida para as presentes e futuras gerações.
- Resolução CONAMA Nº 430/2011: define parâmetros para monitoramento e controle da qualidade dos efluentes, garantindo a preservação da qualidade da água e proteção da saúde pública; estabelece limites máximos para substâncias químicas e biológicas nos efluentes.
- Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98): essa legislação define sanções penais e administrativas para crimes contra o meio ambiente.
Consequência de não realizar o tratamento de efluentes
A não realização adequada do tratamento de efluentes pode resultar em uma série de consequências negativas, tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana.
Veja, a seguir, algumas das principais consequências de não tratar adequadamente os efluentes.
- Poluição hídrica: o descarte direto de efluentes não tratados em corpos d’água pode resultar em poluição hídrica, afetando rios, lagos e oceanos. Isso leva a uma desestabilização de ecossistemas aquáticos, impactando na pesca e na perda de biodiversidade aquática.
- Riscos à saúde pública: efluentes não tratados podem conter patógenos e substâncias químicas perigosas que representam riscos para a saúde humana, que podem contribuir para a propagação de doenças transmitidas pela água.
- Danos ao solo: o despejo inadequado de efluentes no solo pode resultar em contaminação do solo e comprometimento da qualidade dele.
- Impactos econômicos e conflitos legais: a má gestão de efluentes pode resultar em impactos econômicos, incluindo multas, custos de remediação e perda de produtividade.
Quais são os métodos para tratamento de efluentes em tanques de criação de peixes?
Para quem atua com a criação de peixes em tanques, os principais métodos de tratamento de efluentes são o biológico e o físico-químico. A seguir, apresentamos as principais características de cada um deles.
Tratamento biológico
Bactérias e outros microrganismos são os grandes protagonistas desse tipo de tratamento. Isso porque eles são usados para consumir a matéria orgânica poluente por meio de um método respiratório.
Para colocar esse processo em prática, os efluentes são colocados em lagoas de aeração equipadas com difusores de ar, que fornecem o oxigênio necessário às bactérias e aos microrganismos. Depois, a água residual é enviada a lagoas de decantação, onde o material sólido se decanta.
Além de poder ser usado em tanques de criação de peixes, o tratamento biológico também é empregado em diversas outras situações. É o caso da limpeza de fossas sépticas, aterros sanitários e caixas de gordura.
Tratamento físico-químico
O segundo método consiste na remoção de contaminantes por meio de processos tanto físicos quanto químicos. Entre as atividades voltadas à separação física, podemos destacar o peneiramento, o gradeamento, a flotação e o desarenamento.
No que diz respeito aos processos químicos de poluentes, a remoção ocorre por meio da alteração da composição molecular dos efluentes do tanque. Para isso, são usados produtos específicos, que agem na neutralização de pH, desinfecção, oxidação, redução, floculação, coagulação, entre outros processos.
Esse tipo de tratamento é indicado tanto para a remoção de contaminantes sólidos quanto para misturas coloidais, estejam elas em suspensão sedimentáveis ou flutuantes.
Qual é a importância de uma gestão ambiental eficiente?
O tratamento de efluentes é uma prática muito importante, pois consiste em um processo obrigatório e exigido por lei. Conforme mencionado, a medida está prevista em diversas resoluções nacionais.
Frente a esse cenário, é um dever de todo profissional que atua no segmento de piscicultura contar com uma gestão ambiental eficiente. Dessa forma, será possível adotar as práticas ambientais mais adequadas no trabalho e garantir o bom andamento de todos os processos.
Erros a serem evitados ao fazer a gestão ambiental
Ao realizar a gestão ambiental de tratamento de efluentes, é indispensável evitar alguns erros comuns que podem comprometer a eficácia do processo e resultar em impactos negativos no meio ambiente. Veja alguns erros a serem evitados:
- falta de monitoramento adequado;
- descaso com as regulamentações ambientais relacionadas ao tratamento de efluentes;
- escolha inadequada de tecnologias;
- não realização da manutenção regular dos equipamentos de tratamento;
- ausência de plano de contingência.
Agora que você já sabe quais são os principais métodos de tratamento de efluentes, é imprescindível estudá-los com atenção. Assim, você vai poder escolher o processo mais adequado de acordo com a composição dos materiais dos seus tanques de criação de peixes.
Conhecer as melhores tecnologias para tornar esse serviço eficiente e acessível também é muito relevante. É o caso do Vinibiodigestor da Sansuy, equipamento que dá uma destinação mais sustentável e estratégica aos efluentes gerados em propriedades rurais.
Vale destacar que realizar ambos os tipos de tratamento de efluentes — biológico e físico-químico — é a maneira mais eficaz de garantir um trabalho de qualidade. Além disso, contribui para que a legislação ambiental esteja sendo cumprida.
E aí, gostou do nosso artigo? Aproveite a visita em nosso blog e entenda como aliar a piscicultura intensiva com práticas sustentáveis!