Fazer o transporte de alevinos garantindo sua qualidade e sobrevivência ainda é uma questão que aflige produtores, distribuidores e compradores. Isso porque o sucesso da operação não pode ser medido pela sobrevivência dos animais ao final do deslocamento — na verdade, boa parte da mortalidade está associada ao estresse durante o processo, o que acontece sempre na semana seguinte.
Para driblar o problema, um truque bastante usado por produtores é diminuir a carga de peixes no interior das embalagens. No entanto, trata-se de uma prática ineficaz quando subsistem outros fatores que comprometem a sobrevida dos alevinos, dos quais falaremos com mais detalhes a seguir. Acompanhe o post e fique por dentro!
Quais são os fatores que reduzem a resistência dos alevinos?
Alguns requisitos básicos precisam ser seguidos durante o transporte para que a criação de alevinos seja bem-sucedida, assegurando a sobrevida e a qualidade dos animais. Entenda, portanto, o que pode interferir negativamente no manejo e que deve ser evitado no processo de produção de peixes.
Exposição dos peixes à baixa qualidade da água
Geralmente, os viveiros de piscicultura apresentam baixos níveis de oxigênio dissolvido ao longo da madrugada e ao amanhecer nas fases de larvicultura e alevinagem. É possível, ainda, que ocorram níveis perigosos de amônia tóxica ao entardecer.
Portanto, na semana anterior à despesca, é possível que os peixes sejam expostos a condições inapropriadas de qualidade de água, comprometendo sua resistência a infecções por bactérias e parasitas. Essas são circunstâncias que levam facilmente à baixa tolerância dos alevinos ao estresse, às classificações, ao confinamento, ao carregamento e, por fim, ao transporte.
Má nutrição
A nutrição inadequada também pode resultar em perdas ao final do transporte. Alguns produtores ainda acreditam que um alto teor de proteína na ração é garantia de qualidade nutricional, mas isso não é verdade. Para a maioria das espécies, é suficiente manter rações com proteína ao redor de 40%, por isso, é fundamental atentar para a suplementação vitamínica completa e nos níveis ideais.
Está comprovado que a vitamina E, assim como a vitamina C (ácido ascórbico) apresentam efeitos no aumento da resistência dos animais a infestações por parasitas, ao estresse da despesca e à recuperação de lesões.
Assim, é recomendado que, na fase de larvicultura/alevinagem, se mantenha níveis próximos de 300 a 500 mg de vitamina C, além de incluir de 100 a 200 mg de vitamina E a cada Kg. Esses suplementos podem ser aplicados separadamente de forma pura ou em premix polivitamínico, que ajuda a corrigir eventuais níveis de outros tipos de vitaminas.
Suspensão de sólidos durante a despesca
A passagem da rede e a movimentação dos funcionários dentro dos viveiros provocam a suspensão de partículas sólidas que causam danos físicos ao epitélio branquial dos peixes. Esses ferimentos, por sua vez, provocam a inflamação dessas estruturas e prejudicam a osmorregulação, que é a preservação do equilíbrio de compostos e minerais no sangue dos animais. Com isso, a respiração dos alevinos é afetada.
O resultado das alterações osmorregulatórias somado ao estresse ocasionado por asfixia diminui a tolerância dos peixes durante a despesca e o confinamento. Isso também é válido em relação à ocorrência de infecções secundárias provocadas por patógenos.
Outro ponto que deve ser observado são partículas orgânicas liberadas durante a despesca, pois são abundantemente colonizadas por bactérias. Isso porque muitas delas são prejudiciais aos peixes, podendo causar infecções secundárias pelas lesões causadas nas brânquias. O resultado pode ser uma grande incidência de perdas durante a depuração, transporte e pós transporte.
Infestações por bactérias e parasitas
Conforme já adiantamos, a soma dos fatores tende a agravar o problema. Assim, o aumento da carga orgânica associado à progressiva redução da qualidade da água na fase de larvicultura/alevinagem favorece os organismos patogênicos, que encontram um ambiente propício para se multiplicarem e infestarem os alevinos.
Nesse cenário, os parasitas mais comuns são os monogenóides, a tricodina, o piscinoodinium e o íctio, que são identificados com facilidade em raspados das brânquias e do muco, quando examinados no microscópio.
Essa combinação de fatores negativos leva os peixes a apresentarem altos índices de infestação por parasitas no ponto de despesca e de comercialização. Além disso, com o estresse provocado pelo manuseio e o transporte, a baixa imunidade é determinante para a ocorrência de infecções por bactérias. Mais uma vez, resulta em altos níveis de mortalidade depois da estocagem feita nos viveiros de recria.
Os sinais que indicam a presença de parasitas podem ser observados da seguinte forma:
- respiração difícil, em que se vê o peixe boquejando na superfície da água;
- o animal raspa a região do opérculo e o corpo em pedras, plantas, gravetos e outros objetos;
- ocorrência de mortalidade crônica de alevinos na fase de larvicultura/alevinagem;
- os peixes apresentam baixa tolerância ao confinamento na rede;
- ocorrência de mortalidade alta durante a depuração e o transporte.
Reação fisiológica ao estresse
Todo o estresse provocado durante a despesca somado ao confinamento dos alevinos na fase de depuração e transporte eleva a concentração de cortisol no sangue dos peixes.
Esse hormônio contribui com o aumento da permeabilidade das membranas branquiais. Em peixes de água doce, isso provoca uma excessiva absorção de água e consequente perda de minerais através das brânquias, principalmente o cloreto e o sódio. Isso resulta em desequilíbrio osmorregulatório, justificando a adição de sal à água usada no transporte.
O cortisol também limita a defesa imunológica e a resposta inflamatória dos animais, o que favorece o aparecimento de infecções secundárias provocadas por bactérias. Esses aspectos desfavoráveis tendem a acentuar a mortalidade após o transporte, ainda que os alevinos aparentem aspecto saudável.
Ausência de jejum
Foi demonstrado, por meio de observações, que a falta de jejum intensifica a mortalidade dos peixes, ainda durante o transporte e após. Os animais que não são submetidos ao jejum consomem uma quantidade maior de oxigênio e excretam mais amônia e gás carbônico. Os peixes submetidos, por outro lado, ao jejum liberam níveis menores desses gazes.
Foi observado, ainda, a presença de muitas bactérias patogênicas na flora intestinal de alevinos que não jejuam antes do transporte. Isso porque, as fezes liberadas nas caixas ou nas embalagens espalham esses microrganismos patogênicos, que se multiplicam rapidamente, elevando o potencial de infecção e perdas após o transporte.
Qual é a necessidade de avaliar a condição e a resistência dos alevinos antes do transporte?
É preciso avaliar a condição e a capacidade dos alevinos para serem transportados como forma de prevenção contra a mortalidade excessiva. Para isso, é possível promover algumas ações, que podem ajudar nesse processo, como:
- exames parasitológicos, que podem ser realizados por meio de coleta de amostras com cerca de 10 alevinos em cada um dos viveiros, no período de dois ou três dias que antecedam a despesca;
- ensaio prévio simulando o transporte: usar um lote de alevinos uma semana antes da despesca, mantido em jejum durante um dia e, depois, simular um transporte pelo período de pelo menos 24 horas;
- testes de resistência ao estresse antes da despesca e dos preparativos para o transporte;
- monitoramento constante da água a fim de assegurar sua qualidade, acompanhando os valores de oxigênio, de ph entre outras medidas necessárias;
- redução dos ferimentos durante a despesca com uso de redes de panagem macia.
Conforme foi possível entender, há diversos fatores que influenciam diretamente no sucesso do transporte de alevinos. Cada problema reflete no outro, por isso, se não houve cuidado, a situação pode se transformar em um efeito dominó de ocorrências desfavoráveis. Assim, é muito importante tomar o máximo de precauções possível — e, para tanto, conte com os acessórios da Sansuy e garanta um processo de transporte correto e seguro.
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