Gestores logísticos que querem expandir as suas atividades podem se perguntar: há boas perspectivas para as PMEs na exportação? A resposta é sim: muitos estudos, reportagens e pesquisas mostram que os pequenos e médios negócios brasileiros têm chance de prosperar fora do Brasil.
Contudo, o caminho para o sucesso é árduo e envolve diversos desafios — mas também oportunidades. Neste artigo, vamos mostrar os principais pontos relacionados à atuação das PMEs brasileiras no comércio global. Boa leitura!
PMEs podem participar do comércio exterior?
O comércio exterior não se limita aos grandes players do mercado. Micro, pequenas e médias empresas podem expandir suas atividades e vender para outros países — assim como importar matérias-primas, cargas e mercadorias para revenda, dentro de sua realidade financeira.
Os pequenos negócios brasileiros já estão avançando nos mercados estrangeiros. Não à toa, o próprio Governo Federal lança iniciativas para facilitar a penetração dessas empresas no comércio global, como veremos ao longo do texto.
Qual a realidade do Brasil?
Um estudo feito pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), junto ao Sebrae, informa que 41% das empresas brasileiras que exportam produtos são pequenos negócios.
Publicado em março de 2023, o documento mostra que o valor exportado por 11,4 mil micro e pequenas empresas brasileiras foi de aproximadamente 3 bilhões de dólares em 2022. Isso representa 0,9% do total das vendas feitas por organizações nacionais naquele ano.
Por isso, ainda que os números sejam modestos em relação a todo o mercado brasileiro, há uma boa demanda para as PMEs que tenham bons produtos e serviços para vender. Os números da pesquisa também incluem os microempreendedores individuais (MEIs).
Outro dado interessante do relatório mostra que a quantidade de pequenos e médios negócios exportadores aumentou três vezes em relação às grandes empresas que exportam, no período entre 2008 e 2022. Nesse sentido, o tamanho da organização não é empecilho para o seu sucesso no exterior.
No mesmo período, o valor exportado também aumentou. De 2008 a 2022, o faturamento das médias e grandes empresas cresceu 70,1%, chegando a 331 bilhões de dólares. Já os pequenos empreendimentos elevaram a sua participação em 161,4%, chegando aos 3,2 bilhões de dólares.
Quais os desafios do comércio exterior para PME?
O caminho das PMEs para emplacar suas marcas no mercado internacional é árduo, mas o objetivo está longe de ser inatingível. Vamos conhecer os principais obstáculos.
Barreiras tarifárias e impostos
As PMEs que passam a exportar e importar produtos do exterior terão que lidar com novas regulamentações, como tarifas e exigências de outros países. Nesse novo contexto, os gestores precisam ter atenção redobrada para se enquadrar nessas novas normas.
Do mesmo modo, será necessário entender as barreiras tarifárias, mecanismos que restringem a entrada ou saída de produtos por meio de impostos, ou cotas. Ter uma boa equipe jurídica e fiscal é essencial para não ter problemas na hora de se inserir no comércio global.
Logística internacional
Para levar seus produtos e serviços ao mercado internacional, será preciso lidar com as necessidades logísticas, como o transporte das mercadorias. Além disso, até mesmo os itens vendidos podem sofrer modificações, de acordo com a necessidade.
O mesmo produto comercializado no mercado doméstico pode sofrer adaptações em termos de acabamento, matérias-primas, design, dimensões, cores e quantidades. Nesse sentido, as pequenas e médias empresas precisam estar preparadas para atender a todas as exigências do novo mercado comprador.
Outro desafio é o modal de transporte utilizado. No Brasil, o modelo rodoviário é o mais comum — contudo, uma empresa que queira vender lá fora precisará lidar com outras modalidades, como o marítimo.
Certificações
Também será preciso atender às legislações em relação a certificações e cumprimento das especificações técnicas do país de destino. Contudo, isso não deve ser visto como uma burocracia, mas sim como uma oportunidade: caso a empresa consiga ser aprovada nessa etapa, isso aumentará a sua confiabilidade no mercado.
Concorrência global
Dados de pesquisas, como o já mencionado estudo do MDIC com o Sebrae, indicam que há uma série de desafios relacionados à gestão de exportação para pequenas empresas.
Um exemplo disso é o fato de serem menos internacionalizadas e de se concentrarem em setores de mão de obra que sofrem com a concorrência dos baixos salários do sudeste asiático. Outra dificuldade é acessar mercados mais distantes, por conta das necessidades logísticas e de transporte.
Países emergentes como México e Tailândia estão perto de nações ricas, como Estados Unidos, Japão e China. Por isso, esse é mais um obstáculo para os negócios brasileiros.
Flutuações cambiais
Quando as PMEs aumentam o seu escopo de atuação, será preciso lidar com as oscilações relacionadas a moedas estrangeiras. Assim, as importações para pequenas empresas (e médias) sofrerão com a volatilidade, que pode ser maior ou menor mês a mês.
Do mesmo modo, os valores obtidos com as exportações também vão variar na conversão para o real. Caso o objetivo da empresa seja vender em países vizinhos, como Argentina, Colômbia e Uruguai, o valor final das vendas pode não ser tão significativo em termos da moeda brasileira.
Por outro lado, exportar para países que trabalham com o dólar e com o ouro pode ser uma grande vantagem para a empresa crescer significativamente. Em 2024, cada dólar variou entre 5 e 6 reais, por exemplo — portanto, a companhia terá um ganho até 6 vezes maior em relação ao comércio exclusivamente doméstico.
Riscos políticos
Guerras, instabilidades socioeconômicas e mudanças de governos são mais alguns dos fatores que influenciam a atuação de empresas no exterior. Além disso, conflitos armados (como a Guerra na Ucrânia) podem afetar o recebimento de matérias-primas. Um exemplo disso foi o encarecimento do preço do trigo.
Quais as oportunidades no comércio internacional para PMEs?
Conhecidos os obstáculos, chegou o momento de apontar as principais oportunidades para as PMEs que querem atuar globalmente.
Acesso a novos mercados
Quando as PMEs se aventuram no comércio exterior, ela expõe seus produtos e serviços a um público maior. Ainda que isso traga alguns desafios logísticos, é uma excelente oportunidade para vender mais e ampliar internacionalmente a carteira de clientes.
Diversificação de clientes
Em alguns casos, o gestor de uma pequena ou média empresa tem o desejo de expandir as suas operações — contudo, um dos fatores que minam esse objetivo é o foco em um público-alvo específico, limitando as possibilidades de crescimento.
Ao entrarem no mercado global, as PMEs têm a chance de diversificar seus clientes e, consequentemente, garantir maior variedade em seus rendimentos. Afinal, com um portfólio maior de consumidores, os períodos de baixa e crises econômicas não terão um impacto econômico tão negativo, uma vez que essa organização venderá para diferentes públicos.
Mesmo que ela perca alguns clientes por conta de algum fator econômico fora do seu controle, a empresa poderá concentrar, momentaneamente, suas atividades em um segmento de pessoas que ainda estão comprando seus produtos.
Vantagem competitiva
PMEs que vendem para um mercado mais amplo têm vantagem competitiva sobre aquelas que só comercializam produtos localmente. Além de diversificar suas fontes de receita, as empresas mais globalizadas têm mais trunfos na hora de fortalecer a sua marca.
Uma PME que exporta produtos pode enfatizar, em suas campanhas de marketing, a sua capacidade de vender fora do país, por exemplo. Ao atender a um público mais exigente no mercado internacional, seus colaboradores também ganham habilidades para prosperar ainda mais no cenário nacional.
Inovação
Quando a empresa se insere no mercado global, ela tende a ter acesso a tecnologias e inovações. Afinal, seus colaboradores estarão em contato direto com profissionais do exterior e poderão descobrir, em primeira mão, as práticas mais modernas que têm produzido bons resultados no exterior.
Com essa expertise no mercado internacional, a empresa se capacita para desenvolver produtos inovadores e adotar práticas modernas em sua rotina — já que seus colaboradores terão um conhecimento amplo de iniciativas que têm feito sucesso ao redor do mundo. Com isso, será mais fácil transformar os processos produtivos para aumentar a competitividade e a produtividade.
Desenvolvimento de marcas globais
Para se tornar uma marca reconhecida globalmente, é preciso chegar a outros mercados. Inclusive, as PMEs podem buscar parcerias com empresas estrangeiras, de modo a realizar um intercâmbio de produtos, serviços e ações conjuntas de marketing.
Uma reportagem da revista Exame, que traz dados de uma pesquisa da Amazon Ads, mostra que o investimento em publicidade e marketing ajuda efetivamente na expansão dos negócios.
Quais os programas de apoio?
Por terem capacidade limitada em termos de orçamento, as PMEs muitas vezes precisam de programas de apoio para entrar no mercado global. Uma das iniciativas do governo brasileiro nesse sentido é a Política Nacional de Cultura Exportadora (PNCE).
Essa iniciativa foi estabelecida pelo Decreto n.º 11.593, de 10 de julho de 2023, com o objetivo de difundir uma cultura exportadora. Para isso, ela define diretrizes para aumentar o número de micro e pequenas empresas (MPEs) que exportam para o exterior.
Outro objetivo dessa política é institucionalizar a rede informal que operou nos últimos 10 anos, no âmbito de uma iniciativa anterior, o Plano Nacional de Cultura Exportadora. Já em junho de 2024, ocorreu a primeira reunião do Comitê Nacional para a Promoção da Cultura Exportadora (CNPCE), com representantes de 22 estados.
O Plano de Promoção da Cultura Exportadora do Pará serve como modelo para os demais estados, uma vez que ele conseguiu reunir informações de inteligência comercial, desafios específicos e objetivos dessa região. Outra iniciativa importante é o Exporta Mais Brasil, promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos.
Quais são alguns cases de sucesso de exportação para PMEs?
O estudo do MDIC e do Sebrae, que mencionamos no início do texto, indica que muitas PMEs já exportam seus produtos e lucram com as vendas no exterior. Portanto, há demanda internacional para mercadorias brasileiras de qualidade.
Uma matéria recente da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios mostra alguns exemplos: a Santa Carga Totens Carregadores, que criou protótipos avançados de equipamentos para celulares e tem a Hyundai como cliente, e a Cadiveu, que vende produtos capilares para mais de 80 países.
Esses são alguns exemplos que mostram que, sim, há muito potencial a ser aproveitado pelas PMEs na exportação. Como vimos no artigo, com criatividade, desenvolvimento de bons produtos e acessos a políticas nacionais, diversas organizações podem se juntar a esse grupo que não para de crescer.
Aproveite a visita ao blog para entender mais sobre o mercado internacional: conheça a relação entre comércio exterior e desembaraço aduaneiro!