A alevinagem é uma das vertentes da aquicultura que apresenta grande potencial de exploração no momento. Isto é, conforme a lei de mercado, quanto maior o público, maior a demanda, e diante da atual perspectiva de ampliação do consumo de peixes, a necessidade de insumos para sua produção também aumenta.
Nesse caso a lógica é simples: com o interesse em adicionar essa proteína na alimentação crescendo no Brasil, empreendedores novos ou estabelecidos tendem a surgir e a necessitar de mais filhotes para aumentar sua produtividade.
Pensando nisso, vamos abordar neste artigo técnicas e dicas para garantir o sucesso desse tipo de empreendimento!
O que é alevinagem e como funciona?
A alevinagem é uma modalidade da aquicultura que visa criar filhotes destinados ao fornecimento para empreendimentos que atuam no segmento de piscicultura.
Na prática, isso envolve a realização de diversas etapas: começando pela reprodução e se estendendo até sua chegada ao estágio juvenil. Tudo isso em um processo que abrange cuidados iniciais e treinamento alimentar para que os animais atinjam o peso adequado.
Nesse ponto, os alevinos são vendidos para outros produtores, que os desenvolvem até o tamanho ideal para que sejam comercializados com o consumidor final ou revendedores.
Quais são os pontos-chave para o manejo de alevinos?
Na alevinagem, ter processos adequados é essencial para garantir a saúde e o desenvolvimento dos peixes. Logo, adotar boas práticas de reprodução e manejo está diretamente ligado aos resultados.
Veja a seguir o que de mais importante há para saber sobre esses e outros pontos!
Sistemas de criação de alevinos
O primeiro passo para entender os processos envolvidos nessa atividade é conhecer os sistemas de criação de alevinos. Isto é, quais são as características de estocagem a que são submetidos. Nesse segmento, são três:
- intensivo: com a alimentação altamente controlada, ocorre em tanques em que espaço e água são reduzidos. Está presente na alevinagem de tilápia;
- semi-intensivo: encontrada na alevinagem de tambaqui, exige um monitoramento frequente das condições, já que há ampla manipulação;
- semiextensivo: opção na qual o canibalismo e a mortalidade são comuns, trata-se de uma sistemática em que a reposição é constante para garantir o estoque.
Técnicas de reprodução
A fertilização dos ovos que serão usados para produzir alevinos pode ocorrer no meio natural ou em viveiros, de forma induzida ou não. Quando há indução, são administrados hormônios que estimulam esse processo e a desova. Mas, mesmo sem essa ela, existem técnicas que favorecem e melhoram a reprodução, incluindo:
- imitação das características do ambiente natural;
- separação dos espécimes em casais durante o período fértil;
- uso de tecnologias para controlar e impedir o cruzamento de parentes;
- seleção e aprimoramento genético das matrizes.
Desova e coleta
A forma como funcionará o recolhimento das ovas depende do ambiente e de como a reprodução ocorreu. Em espaços naturais, por exemplo, a proximidade da desova precisa ser acompanhada, monitorando o comportamento dos espécimes.
Quando há indução artificial, esse momento é mais fácil de identificar. Por fim, os viveiros, ninhos e raízes que costumam ser usados para simular o habitat da espécie, servem como locais de coleta dos ovos.
Já a captura dos alevinos em estágio larvar acontece pelo recolhimento do cardume no meio em que a variedade está, utilizando uma rede de arrasto fina, um puçá ou algumas tarrafas.
Cuidados iniciais no manejo
Com a fase de reprodução e coleta encerrada, a alevinagem passa para etapa de manejo — um processo extenso, que segue até os peixes chegarem ao tamanho de comercialização.
Inicialmente, o sucesso dessa jornada depende da aclimatação dos alevinos ao novo ambiente. Para evitar contaminações, esse momento exige uma quarentena. Outras precauções envolvem o preparo do espaço com a aplicação de medidas de desinfecção, correção do pH ou adubação para estimular o plâncton.
Esse conjunto de procedimentos deve gerar uma água esverdeada que, se estiver adequada, apresenta uma transparência inferior a 40 centímetros quando testada. Aliás, a qualidade do meio é um fator essencial para o crescimento dos indivíduos. Nesse caso, algumas providências podem ser tomadas, como:
- manter o controle da oxigenação, da microbiota e do pH com testes;
- garantir que a temperatura seja a ideal para o cultivo.
Alimentação
Outro fator que não pode ser descuidado na alevinagem é a alimentação. Durante o período de manejo, ocorre o treinamento alimentar, em que os espécimes deixam de consumir apenas o plâncton, à medida que começam a ter acesso a rações secas.
Inicialmente, as larvas precisam receber as porções com mais frequência, em um composto rico em proteína e com grânulos menores. Vale, ainda, distribuí-las pelo espaço em horários fixos para ampliar o atendimento aos filhotes.
Ou seja, essa fase é bastante trabalhosa. Mais que isso, também é arriscada, uma vez que os animais, privados da quantidade necessária de comida, tendem a adoecer e morrer. Ademais, esse processo ganha importância por se tratar do meio pelo qual os alevinos chegam ao tamanho de comercialização.
Recria
A recria é uma etapa intermediária — que começa antes dos espécimes serem considerados juvenis, mas é posterior à alevinagem. Nesse momento, os peixes são alimentados para ganharem peso, se aproximando do tamanho em que sua espécie é considerada adulta.
Como ter sucesso na criação de alevinos?
Agora que os principais processos da alevinagem estão claramente definidos, é hora de entender quais são as precauções e ações que fazem a diferença para o sucesso nessa atividade. Confira a seguir!
Montar uma estrutura qualificada
A alevinagem conta com uma variedade de técnicas, sistemas e modelos de manejo, que podem ser desenvolvidos em diversas estruturas. Entre elas, destacam-se:
- açudes, represas, lagos, mar e demais ambientes naturais utilizando tanque-rede;
- em viveiros escavados que podem ser recobertos de geomembrana de PVC ou cimento;
- reservatórios pré-moldados ou tanques circulares em materiais como PVC ou poliuretano.
Os primeiros servem, essencialmente, à reprodução. A segunda opção é a mais amplamente utilizada no Brasil, mas é o último formato que tem ganhado força. Isso porque aumenta o controle e, em consequência, a segurança sanitária.
Nesse contexto, a temperatura da água que muda seu metabolismo, a proteção contra chuvas que afetam a oxigenação e o abrigo de predadores são alguns exemplos de ganhos. Outros abrangem processos de higienização mais rigorosos. Dessa forma, os índices de estocagem e sobrevivência aumentam, melhorando a produtividade.
Cada formatação estrutural ainda apresenta suas vantagens e desvantagens, impactando desde os custos até os resultados do negócio. Todavia, a escolha deve começar pela sua adequação às espécies desenvolvidas e primar pela qualidade, a fim de levar o empreendimento em direção ao sucesso.
Atender a legislação
Um erro de gestão, capaz de acarretar o insucesso nessa área, é ignorar os trâmites legais para o desenvolvimento de tal atividade produtiva.
Mesmo que burocráticos, esses processos são formulados para dar segurança a clientes, empreendedores e toda a sociedade. Aliás, muitas dessas questões têm respaldo na sustentabilidade.
A alevinagem, enquanto prática comercial, está sujeita a legislação brasileira. Isso significa que sua estrutura deve ser adaptada para atender tais exigências. Desde a escolha sobre em que local implementar até o cuidado com os efluentes e resíduos entram nisso.
Tudo começa pela regulamentação do empreendimento, obtendo autorizações e licenças junto aos órgãos competentes das áreas de meio ambiente, vigilância sanitária e fiscal. Cabe destacar que não tomar essas medidas deixa seu negócio sujeito a penalidades judiciais e administrativas que tendem a ter impacto financeiro.
Contar com uma equipe preparada
Muitas atividades ligadas à reprodução e à alimentação dependem tanto do conhecimento dos tratadores quanto de seu esforço para serem bem-sucedidas. Assim, a equipe faz toda a diferença para os resultados dos empreendimentos que trabalham a alevinagem de peixes.
Uma das melhores ações que os produtores podem tomar é capacitar e treinar os colaboradores, sejam funcionários ou membros da família envolvidos com o manejo.
Nesse contexto, a dica é buscar por formações em órgãos de fomento ou mesmo na iniciativa privada. Afinal, os ganhos com a produtividade dos cardumes, com o crescimento dos espécimes e com a redução da mortalidade, fazem dessa escolha um investimento que se paga.
Escolher parceiros e fornecedores de confiança
A equipe de assessoria ambiental, os fabricantes dos tanques, os produtores de adubo, os vendedores de ração, entre outros, são parceiros e fornecedores cujos produtos ou serviços afetam os resultados do empreendimento.
Não à toa, devem ser escolhidos com cuidado. Afinal, erros no projeto podem atrasar a concessão de licenças, matérias-primas de baixa qualidade reduzem a vida útil dos viveiros artificiais, insumos inadequados geram um alimento que não promove a engorda etc.
Na prática, o ideal é conhecer o histórico, conversar com outros clientes e, até mesmo, visitar as instalações ou fazer testes ao tomar esse tipo de decisão. Ainda mais nos elementos que cercam a saúde das variedades cultivadas.
O crescimento da demanda por alimentos produzidos por meio da aquicultura tende a puxar a expansão de seus fornecedores, como empreendimentos focados na alevinagem. Diante desse cenário, os interessados ou produtores que já atuam no segmento precisam se manter competitivos. O primeiro passo é conhecer suas técnicas e processos.
Mais que isso, vale a pena ficar a par das novas tecnologias, agregar conhecimento científico e investir na sustentabilidade. Para ter informações sobre esses pontos, leia o artigo sobre Aquicultura 4.0 que disponibilizamos em nosso blog!