O sucesso de um projeto de piscicultura depende de diversos fatores e decisões tomadas por seu proprietário. Entre elas, está a opção de realizar a biometria em peixes, um processo que levanta informações sobre o desenvolvimento do ciclo de produção e facilita as escolhas feitas para melhorar o desempenho das criações.
Considerado um procedimento simples, rápido e extremamente eficiente, a biometria é uma prática recomendada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Os custos de sua execução também são pequenos, uma vez que os materiais necessários não apresentam valores tão elevados.
Apesar disso, muitos criadores ainda ficam com dúvidas sobre a real necessidade de sua realização, bem como seus benefícios ou como realizar o procedimento de forma correta. Conhecer melhor a prática é importante para não comprometer a saúde dos animais, uma vez que o manejo inadequado pode resultar em perdas decorrentes da mortandade dos peixes.
Pensando nisso, colocamos abaixo algumas informações sobre a biometria em peixes, desde a definição da prática e sua importância, até como realizá-la com eficiência. Leia até o final para conferir!
O que é a biometria em peixes
O termo biometria, bio = vida e metria = medida, pode ser entendido como a ciência que mede os seres vivos, ou seja, a base científica para o uso dos dados sobre os parâmetros métricos para estudar estatisticamente as características físicas indicativas do desenvolvimento dos peixes em uma dada unidade de produção.
A prática é feita com o objetivo de identificar problemas na evolução dos animais, com foco na alimentação, ou seja, a taxa de arraçoamento versus o ganho de peso. Dessa forma, é possível realizar modificações que melhoram o desenvolvimento da criação e, consequentemente, geram resultados econômicos mais positivos para os proprietários da piscicultura.
O procedimento acontece por meio de amostragem e consiste na pesagem dos animais, calculando a biomassa total presente no tanque. Com esse valor, é possível consultar as tabelas fornecidas pelos produtores de ração, avaliando se há necessidade de alterar as quantidades fornecidas para atingir o melhor desenvolvimento de suas espécies.
Além disso, o manejo da amostra permite que o estado sanitário e a condição corporal dos animais sejam avaliados. Pode-se identificar a presença de ecto parasitas ou sintomas de enfermidades ou doenças e ainda, outros fatores que comprometam o desenvolvimento dos peixes com potencial para causar perdas na produção.
Importância para projetos de piscicultura
Fica evidente que a realização da biometria em peixes é fundamental para reduzir os riscos associados à prática de piscicultura. O procedimento permite que o criador acompanhe o desenvolvimento dos peixes, identificando se há algo de errado antes do problema gerar danos econômicos.
A prática também facilita que o criador otimize o crescimento de seus peixes, garantindo que a quantidade de ração esteja sempre de acordo com as condições observadas em cada um dos tanques ou viveiros de produção e, dentro do indicado pelo fabricante do alimento. Como resultado, os animais apresentarão boas características e qualidades para o mercado consumidor, favorecendo o aumento do seu valor comercial.
Frequência que a biometria em peixes deve ser feita
De acordo com as recomendações da EMBRAPA, a biometria deve ser feita a cada 15 dias ou, pelo menos, uma vez ao mês. O período é ideal para que seja possível avaliar mudanças entre um procedimento e outro, em termos de alteração na alimentação dos animais.
Nossa recomendação é que, dentro do possível, essa prática seja realizada uma vez por semana para evitar desvios e resultados econômicos insatisfatórios ou até desastrosos.
Quando o criador trabalha com intervalos maiores, o crescimento dos animais pode sofrer deficiência, uma vez que a adequação da quantidade de alimentos não foi feita como deveria e em tempo.
Materiais para necessários para a realização do procedimento
Os materiais necessários para a realização da biometria em peixes são:
- balança: preferencialmente portátil e do tipo dinamômetro para que o manejo seja realizado ao lado da unidade produtiva de forma simplificada e rápida, pois esses animais não sobrevivem fora d’água;
- objeto para pesagem: indicamos o uso de sacola para manejo e biometria de peixes, pois foram desenvolvidas para essa finalidade e permitem o escoamento da água com rapidez;
- materiais de anotação: caderno, caderneta, formulário, prancheta, lápis e tabelas de controle do criador, com os dados da curva de crescimento da espécie ou da variedade de peixe em produção;
- tabelas alimentares: informações fornecidas pelos fabricantes de ração;
- sal: indicado para uso em banho de imersão na dosagem de 8g / litro de água para estimular a produção de muco, proteção natural dos peixes;
- redes, puçás ou tarrafa para a captura das amostras.
Quando realizar o manejo
Como forma de reduzir o estresse nos animais, gerado por todo este manuseio, movimentação e captura dos peixes para a realização desse procedimento, é indicado que sua realização seja feita nas primeiras horas do dia.
Nesse momento, a temperatura e o teor de umidade relativa do ar, bem como a incidência de raios solares estão em patamares menos agressivos a esses organismos de vida aquática. Além disso, vale a pena ressaltar a importância de se realizar esse procedimento antes do primeiro trato do dia.
Como fazer a biometria em peixes
Captura dos peixes
A captura pode ser feita de diferentes maneiras. O indicado é usar redes de arrasto com fios trançados sem nós, com abertura de malha inferior à altura dos peixes impedindo que eles sofram injúrias mecânicas, seja por atrito ou por ficarem presos, emalhados no tecido das redes. Se em seu viveiro não é possível o uso dessa ferramenta, pode-se optar pelas tarrafas; porém, o fio nylon pode machucar os animais e não é a melhor opção, além de causar elevado estresse.
Se o tipo de viveiro também não permite o uso da rede ou da tarrafa, a melhor opção é acostumar os peixes a serem alimentados em um único ponto e, no momento de captura, usar uma quantidade mínima de ração para atrair os animais e realizar a captura com puçás.
Amostra
A amostragem deve ser feita de forma imparcial, ou seja, sem escolher os peixes para o procedimento e sim usar os que forem capturados de forma aleatória. Além disso, a quantidade de animais pesados deve ser representativa e, por isso, o ideal é usar de 3 a 10% do total de peixes alojados no tanque ou viveiro. As amostras devem ter número de indivíduos não inferior a 30 peixes.
Pesagem
Os peixes recolhidos devem ser colocados na sacola de manejo e biometria de peixes. É importante e necessário pesá-la molhada, após a imersão na água, antes de colocar os animais para obter o peso da tara. Esse valor deve ser anotado na planilha para ser usado nos cálculos seguintes. A tara deve ser subtraída do peso da amostra aferida no dinamômetro na pesagem da amostra acondicionada na sacola.
Realize a pesagem em grupos de peixe, tomando cuidado para não sobrecarregar a sacola pois nesse instante pode ocorrer o esmagamento e perfurações nos peixes nela acondicionados. Os valores do peso do objeto de pesagem, sacola úmida e peixes são então anotados. Ao devolvê-los ao viveiro, é indicado um processo cuidadoso para não causar injúrias mecânicas nos peixes.
Alternativamente, a TARA pode ser anotada após cada pesagem.
Cálculos
Com a pesagem finalizada, é o momento de avaliar os dados coletados. O primeiro passo é calcular o peso da amostra, usando:
Peso da amostra = (peso da sacola de pesagem úmida e peixes) – (TARA)
Agora, deve-se calcular o peso médio individual dos peixes da amostra. Para isso, utilize:
Peso médio individual = peso da amostra ÷ número de peixes amostrados
Com esse valor, é possível determinar a biomassa total dentro do tanque amostrado, utilizando a seguinte fórmula:
Biomassa total = peso médio individual x número de peixes vivos estocados no tanque ou viveiro*
*Não se esqueça de descontar os peixes mortos observados ao longo do ciclo de produção, em cada tanque ou viveiro amostrado, para chegar a valores mais precisos de biomassa.
Análises
Com os valores obtidos e calculados, basta verificar as tabelas de referência e realizar os ajustes necessários na alimentação dos animais, levando-se em consideração os parâmetros indicativos da qualidade da água dos tanques e viveiros analisados. Além disso, é possível entender como está o progresso da atividade, como o ganho de peso de um período para o outro.
Durante o processo também é indicado analisar as características físicas dos animais, como alterações em sua coloração, presença de ecto parasitas, sintomas de doenças e enfermidades e machucados que podem indicar problemas de manejo, superlotação ou baixa densidade, qualidade da água, qualidade do alimento, ou seja, fatores que afetam diretamente a saúde dos peixes e a sanidade da criação.
Agora que você já sabe como fazer a biometria em peixes e sua importância para o sucesso de um projeto de piscicultura, confira como monitorar a saúde desses animais para ter melhores resultados!