Produção de camarão de água doce ou camarão do interior no Centro-Oeste do Paraná tem atraído olhares de produtores que buscam por uma alternativa de renda na produção.
Acreditar no potencial da terra e nos frutos que ela pode trazer, mesmo quando a atividade não é típica para aquela região, é o que os piscicultores de Laranjeiras do Sul, no Centro-Oeste do Paraná, vêm fazendo. Adotando uma ideia trazida pelos alunos do curso de Engenharia de Aquicultura da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), diversos produtores estão adaptando a produção e criando camarões de água doce. A espécie escolhida é o Macrobrachium rosenbergii, mais conhecido como camarão da Malásia. Na primeira venda na feira da cidade, a R$ 40 o quilo sujo, a iguaria durou só dez minutos.
A ideia para criação de camarão no município veio de alunos que fizeram estágio na Universidade Federal do Paraná (UFPR), campus de Palotina, no Oeste, e na Univille, em São Francisco do Sul, SC, que viram de perto como funciona a produção. “Alguns alunos de Engenharia em Aquicultura que saíram para outras universidades e fizeram estágio retornaram para cá com essa proposta”, conta a coordenadora do projeto de Extensão e professora da UFFS, Silvia Romão. “Estes alunos trouxeram essa ideia de uma nova atividade, uma alternativa para a aquicultura da região”, completa.
A professora afirma que a região tem um grande potencial para a aquicultura, porém, tem sido pouco explorado. “Esta região tem um grande potencial, com muita água e espaço que são pouco utilizados de modo geral”, diz. Silvia ainda acrescenta que após um reconhecimento da área rural do município foi constatado que a aquicultura ali é mal estruturada. “Os produtores têm viveiros para piscicultura, mas não têm muito conhecimento sobre a atividade”, diz.
O primeiro ciclo de cultivo foi feito na própria universidade. “Ali, vimos à possibilidade de crescimento que a atividade tem na nossa região. Com cinco meses, os camarões já alcançaram o tamanho comercial”, conta Silvia. A pesquisa ainda está em andamento para a adaptabilidade do camarão na região, como a temperatura e melhor época do ano para criação.
O projeto de extensão para criação de camarões surgiu em 2014. “Entramos com um projeto financiado pelo MEC (Ministério da Educação), e dentro desse projeto passamos a acompanhar alguns produtores. Em princípio seria somente com peixes, mas quando surgiu o camarão adotamos também”, conta a professora. “A nossa ideia é fomentar todas as possibilidades”, acrescenta.
E para que a nova atividade não interfira nas antigas feitas pelo produtor, há a alternativa de fazer o consórcio com tilápias. “Muitos produtores têm feito isso; trabalhado com as duas atividades”, conta Silvia. Porém, a professora alerta que alguns pontos devem ser seguidos para que o consórcio dê certo. “Percebemos que se o produtor colocar primeiro a tilápia e depois o camarão, a tilápia come todas as larvas, porque ela entra no tanque pequena e um pouco desorientada”, explica. Porém, caso faça o processo contrário, a atividade funciona. “Colocando primeiro a larva do camarão e dando um tempo de um mês até colocar a tilápia, a larva tem tempo para se localizar e encontrar esconderijos. Dessa forma, não gera problema entre as duas espécies”, explica.
Larvicultura
As primeiras larvas utilizadas no projeto da UFFS foram trazidas do Rio de Janeiro. “Vimos que é uma grande dificuldade, porque é um local distante, sem contar que tem um custo elevado”, conta Silvia. Por isso, segundo a professora, agora os alunos estão estudando a possibilidade de implantar um laboratório de larvicultura. “Seria uma unidade pequena, porque a proposta da universidade é mostrar a viabilidade da criação e não atuar no fornecimento e na produção de pós-larvas”, diz.
A professora explica que nos próximos passos do projeto é preciso que os produtores estejam ligados a um fornecedor de pós-larva. “O que temos aqui é uma pequena larvicultura, que não comporta a demanda que estamos tendo”, afirma. O fornecimento está acontecendo conforme a criação. “Oferecemos mil pós-larvas para os produtores”, informa Silvia.
Por enquanto, os alunos envolvidos no projeto de extensão têm se comprometido a fazer o transporte da pós-larva para os produtores. “Eles se propuseram a negociar com os produtores de pós-larva no Rio de Janeiro, trouxeram até Foz do Iguaçu e então foram buscar para entregar aos produtores”, conta a professora. Segundo ela, esta é a ideia inicial, para os primeiros ciclos, visando já uma proposta comercial. “Quando estabelecer que há uma comercialização no município, então os alunos montarão uma larvicultura”, diz.
Produção
Para alguns produtores, a produção do camarão já está dando certo. Na primeira vez em que foi comercializado durante a tradicional feira de Laranjeiras do Sul, o produto durou na barraca somente dez minutos. “O produto foi comercializado a R$ 40 o quilo sujo. Mas mesmo assim, a venda foi bastante rápida”, conta um dos alunos envolvidos no projeto, Lucas Vogel. Segundo o estudante, houve ainda a necessidade de fazer a limitação de compra por pessoa. “Algumas pessoas queriam levar bastante, mas tivemos que limitar de, no máximo, um quilo por pessoa”, diz.
Isso mostra como a viabilidade da produção de camarão é grande no município, e é positivo, já que a produção é pequena em todo o Brasil. “Temos estocado cem milheiros, e acreditamos que isso vai gerar uma tonelada de camarão”, comenta Lucas. Segundo o acadêmico, isto colocaria o Paraná na rota brasileira de produção, “já que é um produto pouco produzido no país”, diz.
Os alunos que estão no projeto informam que o peso comercial do camarão varia de 25 a 40 gramas, “mas ele pode chegar a até 500 gramas”, afirma Lucas. Nestas condições de peso, de quatro a cinco meses no tanque, e dependendo do manejo realizado, o camarão já está em boas condições para a comercialização.
Porém, apesar de a produção ter uma boa expectativa, ainda há alguns pontos a serem vencidos pelos produtores. Um deles é o clima. “É a nossa principal dificuldade, porque temos aqui um inverno muito rigoroso. Então, a melhor época para o cultivo deve começar em setembro ou outubro e vai até aproximadamente o mês de maio. Mas não é nada ainda muito definido”, explica Silvia Romão.
A nutrição do camarão também tem sido ainda um desafio para os produtores. Silvia explica que a ração para camarão não é produzida em grande escala, como da piscicultura, e que está disponível somente no litoral, o que torna o produto mais caro para chegar ao interior. “Apesar dessa questão, o camarão se alimenta muito bem dos organismos que estão no fundo do tanque e também com a ração do peixe, quando se faz o consórcio”, conta. A professora ainda explica que, quando o cultivo integrado é feito, o produtor alimenta o peixe e não o camarão. “Você tem condições de trabalhar com a ração do peixe. Claro que se tiver a ração preparada especificamente para camarão, melhora a produção. Mas a ração para peixe também é bem aceita”, explica.
Na Prática
E tem quem acredite que a ideia pode ser uma boa fonte de renda. Esse é o caso do produtor Everton Schuster Beê. “Primeiro eu pesquisei um pouco sobre o assunto e vi que esta era uma atividade que não tinha tanto custo pela quantidade que poderia ser produzido”, conta. Ele explica que havia visto alguns produtores da cidade que já estavam produzindo, não em grande escala, mas com bons resultados. “E como já tínhamos os tanques na propriedade, acabamos nos aventurando nesta atividade”, conta Beê.
Há mais de três meses o produtor investe na criação de camarão. “São cinco tanques que temos aqui. Foram 14 milheiros que soltamos. Agora vamos ver como as coisas vão se comportar”, diz o produtor. Beê ainda explica que neste primeiro momento investe somente na produção de camarão, não fazendo o consórcio com a tilápia.
O produtor ainda diz que está gostando da atividade. “O que dá mais trabalho é fazer a parte da secagem e montagem dos tanques. Depois que está tudo pronto, é uma atividade tranquila. Só temos que nos preocupar com a alimentação, mas isso eu vou fazendo conforme o pessoal da universidade vai me instruindo”, afirma.
A intenção do produtor é ver como se comporta este primeiro ciclo da produção. “Caso vejamos que é algo realmente rentável e que pode gerar bons lucros, com certeza vamos investir mais, já que aqui na propriedade temos espaço para explorar”, finaliza.
Mais informações você encontra no Anuário do Agronegócio Paranaense de 2016 ou online.
(Fonte: O Presente Rural)
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