Desde o mês de junho que uma nuvem de gafanhotos acendeu um alerta na Argentina e em seus países vizinhos. O medo é que essa grande quantidade de animais cause grandes e desastrosos danos aos campos e plantações. No entanto, não é a primeira vez que isso acontece.
Nas décadas de 30,40 e 60, as nuvens de gafanhotos da espécie Schistocerca cancellata geraram grandes prejuízos nas lavouras do Brasil e da Argentina. A seguir, entenda como essa nuvem se forma, os impactos para o agronegócio e como se proteger dos danos. Boa leitura!
O que é a nuvem de gafanhotos?
A nuvem de gafanhotos é formada por cerca de 40 milhões de desses insetos por quilômetro quadrado. Eles têm o instinto de viver em conjunto. Por isso, é comum sempre encontrar vários deles juntos, principalmente em períodos de reprodução. Esses 40 milhões poderiam comer a mesma quantidade de 2 mil vacas em um dia.
Além dos fins de reprodução, eles têm um mecanismo chamado gregarismo. Esse é um comportamento natural que os fazem viver em conjunto para se alimentarem e por questões de sobrevivência.
Para que tenha uma ideia, um gafanhoto fêmea e adulto é capaz de produzir entre 80 e 120 ovos. Por isso, há uma preocupação para os próximos messes de que esses ovos se tornem mais insetos para se juntarem à nuvem, em meio à qualeles são capazes de viajar até 150 quilômetros. Para fins de comparação, isso significa que eles podem, por exemplo, atravessar um país em poucas horas.
Por que esse fenômeno aconteceu?
Esse fenômeno foi causado por mudanças climáticas, principalmente por períodos de chuva e, logo após, ondas de muito calor. Esse é um prato cheio para que eles possam reproduzir-se. Acontece que eles começaram a se movimentar em direção ao vento. Apesar de não terem hábitos migratórios, ao unir a grande quantidade de insetos, vento e condições climáticas favoráveis para reprodução, fez com que esses milhões de gafanhotos se encontrassem e fossem para a mesma direção.
Além disso, eles somente saem de um local quando os seus recursos de alimentação estão se esgotando. O mesmo acontece com outros insetos, como as borboletas-monarcas e algumas espécies específicas de libélulas.
A nuvem em si é um acontecimento raro, pois normalmente essas grandes massas são controladas logo no início de sua formação. Porém, quando chegam a um alto estágio de gregário, como esse recente, fica mais difícil prevenir, principalmente porque os gafanhotos dormem e ficam mais quietos somente à noite, o que dificulta a visibilidade para controle da nuvem.
Quais são os impactos da nuvem de gafanhotos?
Na Argentina, as províncias de Chaco, Formosa e Santa Fé foram as mais atingidas. Elas tiveram plantações de mandioca e cana-de-açúcar destruídas. No Paraguai, os danos foram em plantações de milho. Algumas espécies somente causam danos em sua fase adulta, que é quando já têm as suas asas totalmente formadas. No entanto, a Schistocerca cancellata, que causou a nuvem de gafanhotos, pode causar impactos em todas as suas fases.
Desde que tenham a região da boca formada, esses insetos conseguem destruir as partes mais altas dos vegetais. Por isso que o milho é um dos grandes afetados, já que tem folhas altas. Os humanos não têm muito o que se preocupar, pois esses gafanhotos não são causadores de doenças, não são vetores de microorganismos e, como dito, não são agressivos como outras espécies. Eles também não são nocivos para outros animais, como os de pasto.
No entanto, de maneira indireta, eles podem prejudicar a pecuária, porque se alimentam de insumos que são utilizados nas atividades pecuaristas.
A nuvem de gafanhotos pode chegar ao Brasil?
Esse fenômeno não costuma ser desencadeado no Brasil, porque as espécies brasileiras de gafanhotos têm menor capacidade reprodutiva. Além disso, eles não são tão agressivos quanto os gafanhotos africanos, por exemplo. De acordo com as previsões meteorológicas, as chances de a nuvem de gafanhotos chegar ao Brasil e causar grandes estragos é pequena. Caso alcance a região sul, os estragos tendem a ser pequenos.
No dia 29 de julho, o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar, o Senasa, afirmou que a nuvem de gafanhotos estava indo em direção ao Rio Paraná, ou seja, para o Oeste do país. Com isso, ela estaria se distanciando do nosso território e do Uruguai.
Entretanto, conforme explicado, essa nuvem se move em direção ao vento e de acordo com o clima. Caso ocorra uma mudança climática favorável para esses insetos, eles podem mudar o seu rumo e seguir em direção ao país vizinho. Se isso acontecer, eles podem cruzar a fronteira do Rio Grande do Sul.
Como evitar estragos causados pela nuvem de gafanhotos?
Apesar de as autoridades afirmarem que as chances de atingir o Brasil são pequenas, todo cuidado é pouco. Ainda mais que há chances de a direção da nuvem de gafanhotos ir em rumo ao Rio Grande do Sul. Por via de regra, os insetos são combatidos e controlados com inseticidas. Porém, na quantidade e velocidade de uma nuvem de gafanhotos, essa é uma ação que não teria efeitos.
No entanto, para fins de prevenção, alguns produtores brasileiros estão utilizando aviões para pulverizar inseticidas, na tentativa de evitar a proliferação. Para isso, é necessário ter cuidado com as quantidades, evitando que elas contaminem o ambiente e as plantações.
A primeira atitude tomada pelo Brasil foi a de monitorar. Esse é um dos principais cuidados que precisam ser tomados, porque, assim, é possível acompanhar o deslocamento da nuvem de gafanhotos, demarcar locais de pouco e tomar medidas preventivas. Por meio da demarcação de pouco, é possível buscar por locais escondidos, como buracos no solo e nas paredes, para encontrar ovos e evitar que eles nasçam e aumentem a nuvem.
A nuvem de gafanhotos é um fenômeno raro, porém não é a primeira vez que ele acontece. Apesar de as chances de atingirem e causarem grandes prejuízos no Brasil serem baixas, o monitoramento constante e a comunicação com os países afetados é imprescindível.
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