Rica em nutrientes e de sabor refinado, a carne nobre do molusco gera receita acima dos custos, mas atividade é pouco explorada.
Nos milhares de quilômetros que formam a faixa litorânea brasileira, banhada pelo Oceano Atlântico, é possível realizar o cultivo dos mais diversos organismos marinhos como carne de molusco, prática chamada de maricultura.
Além de peixes, podem ser criados no mar variados pescados que abastecem as mesas da população. Ao lado das ostras e mexilhões, as vieiras oriundas da malacocultura (criação de moluscos bivalves, ou de duas conchas) são um alimento saudável e apreciado pelo consumidor.
Como seus pares, as vieiras também são consideradas nobres e de alto valor agregado, oferecendo ao produtor mais uma opção rentável de cultivo para aumentar o orçamento mensal. Por fornecerem carne rica em nutrientes, tenra e de sabor refinado, as vieiras frescas de porte grande chegam a ser vendidas por até R$ 5, preço unitário que justifica a pectinicultura, atividade incipiente em território nacional.
Praticado principalmente por mão de obra familiar, o manejo de vieiras é mais comum no litoral de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro, mas tem potencial para se desenvolver em outros Estados do país. O empreendimento utiliza como instalação um espaço de domínio público (o mar), que aqui faz fronteira com várias regiões.
Porém, o cultivo de vieiras é um modelo de produção cuja tecnologia empregada ainda vem sendo aperfeiçoada. Para reduzir os investimentos, as lanternas japonesas – um tipo de gaiola cilíndrica utilizada para a fixação do molusco – podem ser construídas artesanalmente, mas os cuidados exigidos para o desenvolvimento da criação elevam os custos.
Como as vieiras precisam de espaço para crescer, exemplares maiores e menores devem ser separados, para controlar a densidade de estocagem. A medida é importante para evitar que ocorra a redução da produtividade por área. Há também necessidade de trocas regulares da malha das gaiolas, a fim de aumentar o espaço à medida que as vieiras engordam.
De outro lado, assim como os demais bivalves, as vieiras têm a vantagem de se alimentar por meio da filtração da água do mar. Contam com uma franja de cílios na periferia da concha que, ao se movimentar, capturam microalgas e partículas orgânicas presentes na água. Sem necessidade de consumo de qualquer alimento adicional, a criação da espécie livra-se de um dos itens que mais encarecem a atividade.
As vieiras são a identificação genérica dada aos pectinídeos, grupo formado por 16 espécies de ocorrência natural no Brasil. Embora seja cultivada na França, a espécie de nome comercial coquille de saint-jacques é muitas vezes usada como sinônimo do molusco no Rio de Janeiro e no litoral norte de São Paulo.
Raio-x
Criação mínima
Mil sementes.
Custo
R$ 130 é o preço do milheiro.
Retorno
A engorda para atingir o tamanho comercial leva de 8 a 10 meses.
Reprodução
Ocorre em períodos em que frentes frias provocam diferentes temperaturas e salinidades em massas de água.
Mãos à obra
Início
Entre as espécies encontradas na costa brasileira, a Nodipecten nodosus é a que tem mais potencial para cultivo no país. Também apresenta o maior tamanho, podendo ultrapassar 150 milímetros de comprimento. Vieiras vivem soltas sob substratos arenosos em profundidades de 10 a 20 metros no mar, mas é indicado obter sementes com 10 milímetros – a forma jovem do molusco – de laboratórios especializados em reprodução.
Ambiente
A limpeza da água é quesito fundamental para o manejo de vieiras. Evite locais próximos a áreas de despejo de esgotos e resíduos industriais e contaminadas com metais pesados. Além de rigor para escolher a localização das instalações, deve ser realizado o monitoramento ambiental com análises da qualidade da água.
Lanternas
Apesar de possuírem bisso, filamentos proteicos com capacidade de fixação em substratos, como os que existem em cordas descartadas por barcos de pesca – método barato adotado no cultivo de mexilhões –, as vieiras demandam estrutura de maior custo para se desenvolver. Para a engorda, o molusco é acomodado em gaiolas cilíndricas com cinco a dez compartimentos.
Chamadas de lanternas japonesas, precisam ter a malha trocada mensalmente para não ter a entrada de água obstruída. Os flutuadores utilizados no sistema de produção do tipo espinhel (long-line), que dão suporte às gaiolas, podem ser substituídos por galões de 20 litros vazios.
Densidade
Deve ser controlada para obter um cultivo produtivo. Por isso, monitore o crescimento das sementes na fase de berçário. No povoamento inicial, utilizam-se 300 sementes com 8 a 10 milímetros por compartimento da lanterna.
Após um mês, limpe ou troque as telas e faça a seleção das vieiras mais uniformes para transferir para outras gaiolas. Na segunda fase de cultivo, a densidade deve ser de 150 vieiras por compartimento. A cada 30 dias, repita o procedimento até que no último mês de cultivo a densidade esteja entre dez e 15 vieiras por compartimento.
Alimentação
Restringe-se a pequenos microrganismos e partículas orgânicas obtidos por meio da filtragem da água do mar.
Reprodução
Hermafroditas, as vieiras se multiplicam quando recebem estímulos de alguma alteração no ambiente, principalmente climática. Em geral, a fecundação ocorre nos períodos em que frentes frias provocam diferentes temperaturas e salinidades em massas de água. A disponibilidade das sementes ocorre com maior intensidade entre os meses de maio e outubro.
Despesca
Leva cerca de oito a dez meses até que a concha do molusco chegue a 7 centímetros, tamanho indicado para ser comercializado no varejo.
(Fonte: GLOBO RURAL)
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